Arquivo do autor:Ailton Augusto

Sobre Ailton Augusto

Estudante do curso de graduação em Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora, vinculado como bolsista ao projeto de extensão Boa Vizinhança - Espanhol. Tem como interesses as áreas de Literatura Brasileira e Hispanoamericana e aprecia a música popular brasileira, estudando-a de vez em quando de modo diletante.

Encontro de 09 de novembro de 2013

No encontro deste mês tivemos uma produtiva discussão a respeito da obra O estrangeiro, de Albert Camus. Os comentários versaram sobre o comportamento do personagem, que foi contrastado com casos da “vida real” de pessoas que igualmente foram criticadas por não demonstrar ante a morte o comportamento socialmente desejável.

Um dos membros do grupo (Rita) teceu a seguinte observação sobre a personalidade de Meursault: ele era “destinado à aceitação”, expressão feliz para qualificar a postura do personagem ante a vida, já que para ele “tanto fazia” uma coisa como outra quando confrontado com a necessidade de tomar decisões.

Além disso, comentou-se sobre a derrogação de seu julgamento, da qual não sabemos nada além de que foi solicitada e de que Meursault está à espera de seu resultado. Comentei que, na verdade, a própria escrita da obra funcionaria como recurso, já que joga outra luz sobre os fatos mostrando que “tudo é verdade e nada é verdade”. Além disso, apesar do começo que diz “Hoje mamãe morreu”, nada acontece no tempo da narração, mas sim muito antes e é visto em retrospectiva.

Também comentou-se sobre a circularidade da obra de Camus, em que trechos ou motivos de uma obra reaparecem em outras. Sobre este ponto, leu-se o prefácio de Manuel da Costa Pinto presente na edição da Best Bolso. Por falar em edições, observou-se ainda a adaptação que uma das edições (perdoem-me, mas não me lembro qual seja a editora ou o tradutor) fez dos nomes dos personagens, com Raymond passando a Raimundo e Marie a Maria. Vá entender…

Votação: 

Para o próximo encontro foi eleita a obra A dama do cachorrinho e outros contos, de Anton Tchékov, indicada pelo membro recém aprovado Pedro Uchôas. As outras indicações foram: O silêncio primordial, de Santiago Kovadloff, A trégua, de Mario Benedetti, Adeus às armas, de Ernest Hemingway, Orfeu da Conceição, de Vinícius de Moraes e O país do carnaval, de Jorge Amado.

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O estrangeiro, de Albert Camus

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Obra do mês de novembro do Sempre um Livro, O estrangeiro, de Albert Camus, é um livro de pouco mais de cem páginas, carregado, contudo, de fortes estímulos ao pensamento do leitor. Concluído em maio de 1940 e publicado dois anos depois ao mesmo tempo que O mito de Sísifo, este romance pode ser considerado, em parte, a tradução romanesca das ideias contidas no ensaio sobre o absurdo.

Como vemos na primeira parte do romance, o enredo é simples: Meursault, o narrador, leva uma vida medíocre como empregado de escritório em Argel. Um dia, perde sua mãe – instalada há alguns anos em um asilo – e este fato não lhe desperta comoção. Nos dias que se seguem, se envolve com uma ex-colega de trabalho, aprofunda a amizade com Raymond, um vizinho de andar, e, envolvido em uma intriga amorosa deste último, termina por matar um árabe em uma praia.

Apesar de seu envolvimento com a história de Raymond, pessoalmente, Meursault não tinha motivos para desferir cinco tiros contra um homem desarmado que não o havia agredido. Exceção feita ao sol.

O livro possui ainda uma segunda parte na qual o narrador discorre sobre seu próprio julgamento (numa posição excessivamente parcial para um relato desse tipo) e sobre seus dias na prisão à espera do cumprimento de sua sentença. É aí que o caráter de Meursault se mostra por inteiro: nosso homem viveu (e ainda vive na prisão) “em uma espécie de torpor, uma ‘estrangeira indiferença’. Ele representa o homem diante da consciência do absurdo, (…) comportando-se como se a vida não tivesse sentido”. [1]

Camus assim se refere ao seu personagem no prefácio à edição americana do romance, dada a público em 1955:

Há muito tempo atrás, eu defini “O Estrangeiro” numa frase que percebo extremamente paradoxal: “Em nossa sociedade qualquer homem que não chore no enterro de sua mãe é passível de ser condenado a morte”. Eu apenas queria dizer que o ‘herói’ do livro é sentenciado porque ele não jogou o jogo. Nesse sentido, ele é um ”marginal” (outsider) para a sociedade em que ele vive, vagando nos subúrbios da vida, solitário e sensual. 

Por esta razão, alguns leitores têm o considerado como um ”excluído”. Mas para alcançar uma descrição mais acurada de seu caráter, ou melhor, uma descrição mais próxima das intenções de seu autor, é preciso se perguntar de que maneira Mersualt não joga o jogo. A resposta é simples: ele se recusa a mentir. 

Mentir não é apenas dizer o que não é verdade. É também e, especialmente, dizer mais do que é verdade e, no caso dos sentimentos humanos, dizer mais do que se sente. Todos fazemos isso, todos os dias, para tornar a vida simples. Mas contrário às aparências, Meursault não quer fazer a vida simples.

Ele diz o que ele é, recusa-se a esconder seus sentimentos e a sociedade sente-se ameaçada. Por exemplo, espera-se que ele se manifeste arrependido por seu crime, como é de costume. Ele responde que se sente mais incomodado com os distúrbios do fato do que verdadeiro arrependimento. É essa nuance que o condena.

Desta maneira para mim que Meursault não é um ‘excluído’, mas um carente e sincero homem, amando um sol que não deixa sombras. Longe de ser insensível, ele é dirigido por uma tenaz, e por essa razão, profunda paixão; a paixão pelo absoluto e pela verdade. Esta verdade é até aqui, e ainda, vista como negativa; uma verdade que nasce de viver e sentir e sem a qual nenhum triunfo de natureza interior ou do mundo será possível.

Assim não seria um equívoco entender “O Estrangeiro” como a estória de um homem que sem nenhuma pretensão concorda em morrer pela verdade. Eu disse uma vez, e também paradoxalmente, que tentei fazer meu personagem representar o único Cristo que merecemos. Será entendido, após estas explicações, que disse isso sem nenhuma intenção de blasfemar, mas simplesmente com um pouco de afeição irônica que um artista tem o direito de sentir em relação aos personagens que ele tenha criado. [2]

Após as palavras do autor, pouco tenho a acrescentar. Digo apenas que temas importantes presentes na obra, como a reflexão sobre a condição humana, a sátira social e a técnica narrativa certamente se farão presentes na discussão que o grupo levará a cabo nesta tarde de sábado. Desejo um bom encontro para nós e uma boa leitura àqueles que ainda não se aventuraram a ler esta obra e que eventualmente se sintam tentados a isso após a leitura deste blog.

[1] Tradução livre de trechos da página http://mael.monnier.free.fr/bac_francais/etranger/ [original em francês]

[2] Tradução encontrada em: http://cardealnordeste.wordpress.com/tag/o-estrangeiro/

Outra página consultada para elaboração deste texto:

http://www.boladafoca.com/2009/08/o-estranho-momento-presente.html

[Pós-escrito]

Depois de dias e dias às voltas com Camus e com O estrangeiro, consultando, via de regra, páginas estrangeiras me deparei com uma página brasileira dedicada ao autor e à sua obra. Deixo a indicação aos leitores para que possam desfrutar: http://www.albertcamus.com.br/

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Albert Camus (1913-1960)

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Hoje, 07 de novembro de 2013, Albert Camus – autor da obra do mês, O estrangeiro – estaria completando 100 anos. A publicação desta pequena biografia responde, pois, não apenas às práticas do Sempre um livro, mas também ao ensejo do grupo de homenagear o escritor em data assim significativa.

Camus nasceu em Mondovi, Argélia. Era o segundo filho de Lucien Camus, colono de origem francesa, e de Catherine Sintès, quem possuía origem espanhola. No ano seguinte (1914) seu pai é mobilizado para a I Guerra Mundial, vindo a falecer na batalha do Marne, em outubro. Depois da mobilização de Lucien Camus, Catherine se muda com os dois filhos para a casa de sua mãe, situada em um bairro popular da capital, Argel. Para prover o sustento da família a viúva passa a exercer a função de doméstica e é com a ajuda de seu professor, Louis Germain, que Camus conseguirá bolsas para concluir seus estudos.

Em outubro de 1930 o escritor ingressa na faculdade de Filosofia, onde estuda com Jean Grenier. Em dezembro do mesmo ano se manifestam os primeiros sintomas da tuberculose.

Dois anos depois ele publica seus primeiros ensaios na revista Sud e em 1934 desposa a rica e volúvel Simone Hié.  As bodas durarão até 1936.

Em 1935 funda com alguns amigos uma companhia teatral chamada Théâtre du Travail. Também neste ano se filia ao Partido Comunista, do qual se desligará dois anos depois.

No ano de 1940 Camus se muda para Paris para incorporar-se à redação de Paris-Soir e exercer o cargo de leitor de textos na editora Gallimard, pela qual publicará a maior parte de suas obras. Na metrópole, ele se engaja no movimento da Resistência e começa a publicar artigos no jornal clandestino Combat.

Embora já houvesse escrito uma novela, uma peça de teatro e dois livros de ensaios enquanto ainda vivia na Argélia, é na França e a partir dos anos 40 que o autor encontrará a consagração. Seu romance O estrangeiro vem a lume em 1942, mesmo ano da publicação do ensaio O mito de Sísifo. Ambas as obras se incluem no que se convencionou chamar de ciclo do absurdo, um tema também presente nas peças de teatro Calígula (1944) e O mal entendido (1944).

Outros dois grandes temas enfocados por Camus foram a revolta e a solidão. A primeira está no cerne das obras A peste (romance, 1947), O estado de sítio (teatro, 1948 – escrita em colaboração com Jean-Louis Barrault), Os justos (teatro, 1950) e O homem revoltado (ensaio, 1951). Aliás, este ensaio provoca o rompimento de Camus com Jean Paul Sartre, outro grande nome da literatura e filosofia francesas.

A solidão comparece em outro ciclo de obras: A queda (romance, 1956), O exílio e o reino (contos, 1957) e O primeiro homem (romance gestado nos anos 50 e só publicado postumamente em 1995).

A eclosão da guerra da Argélia em 1954 (guerra esta que só terminará em 1962, quando o autor já está morto) coloca o escritor em uma encruzilhada: contrário a quaisquer atos violentos – tanto o terrorismo de Estado como a violência revolucionária – e sentindo-se ligado tanto à sua Argélia natal como à metrópole, onde residia e estava fazendo carreira, Camus defende um complicado meio termo, desejando uma Argélia liberta do jugo colonial, mas não independente da França.

Em 1957, contrariando todas as previsões, Camus é galardoado com o Prêmio Nobel de Literatura “por sua importante produção literária, que, com seriedade lúcida ilumina os problemas da consciência humana em nossos tempos” [1].

Albert Camus morreu em 1960, num trágico acidente de carro ocorrido quando retornava a Paris, saindo de Lourmarin, onde veio a ser enterrado.

[À parte]

Para nós, brasileiros, cobra especial interesse a visita que Camus fez ao país em 1949, como parte de um tour à América do Sul bancado pelo governo francês. Na terra brasilis o escritor travou contato com intelectuais como Oswald de Andrade, Murilo Mendes e Manuel Bandeira e com manifestações culturais as mais diversas: “levaram-no até a uma sessão de macumba no subúrbio carioca de Caxias, a um bumba meu boi no Recife, a um candomblé em Salvador” [2]. A quem se interessar o relato dessa viagem se encontra disponível no livro Diário de Viagem, publicado postumamente.

[Notas]

[1] Justificativa da Academia Sueca para concessão do Prêmio Nobel de Literatura a Albert Camus. Tradução ao português encontrada na Wikipédia.

[2] Cito trecho do texto do jornalista Sérgio Augusto publicada no último dia 02/11 no Estado de São Paulo. Ver referências mais abaixo.

[Referências]

http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/literature/laureates/1957/ [página do site oficial do Prêmio Nobel, em inglês]

http://www.etudes-camusiennes.fr/wordpress/ [página da Societé des Études Camusiennes, em francês]

http://www.camus-society.com/index.html [site da Albert Camus Society, em inglês]

http://webcamus.free.fr/index.html [página em francês dedicada a Albert Camus]

Reportagens: http://www.publico.pt/cultura/jornal/albert-camus–autor-de-o-estrangeiro-nasceu-ha-cem-anos-27363849 e http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed771_o_homem_deprimido

[Créditos da foto] Albert Camus – © Bettmann/CORBIS

Fonte aqui: http://www.lepoint.fr/culture/2009-11-19/albert-camus-au-pantheon/249/0/397028

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Sobre o encontro de 13 de julho de 2013

[Transcrição (quase fiel) de e-mail enviado ao grupo]

Amigos, boa tarde!
 
Segue abaixo um resumo com as informações relativas ao último encontro do grupo, ocorrido em 13/7 e as decisões tomadas para o encontro do dia 10/8.
 
Membros presentes: Rita, Raquel, Rogério e eu
 
Discutimos basicamente as enormes variações encontradas entre as diferentes coletâneas de “Histórias extraordinárias” publicadas no Brasil e que eu ignorava (confesso) no momento da minha indicação. Fizemos comparações entre as traduções disponíveis no encontro (feitas por Clarice Lispector, José Paulo Paes e Brenno Silveira e outros). 
 
Também fizemos comentários sobre a vida de Poe e sobre o modo como elementos biográficos são transportados pelo autor para seu universo literário. Interessa aqui nesta mensagem comentar o caráter “pioneiro” do autor: Poe foi pioneiro no estabelecimento de gêneros literários como o gênero policial e literatura de terror e igualmente pioneiro na forma de colocar-se frente à escrita, valendo-se dela como meio de sobrevivência em uma sociedade em mudança na qual já não se encontrava a figura do mecenas.
 
Rita destacou, ainda, as relações que ela via entre Poe e alguns conceitos da Psicanálise, novamente atribuindo ao escritor um papel de antecessor de algumas formulações que demorariam a despontar no campo das ciências.
 
Dados do próximo encontro:
 
Diante das divergências observadas no conteúdo das diferentes antologias e, também, do interesse de todos os presentes em conhecer um pouco mais sobre o autor (além da impossibilidade de discutir qualquer coisa quando todos lemos textos diferentes), optamos por dedicar o próximo encontro do S.u.L ao mesmo autor, porém tomando o cuidado de identificar quais os textos que deverão ser lidos. Segue abaixo:
 
poema O corvo. Existem diferentes traduções. Aliás, um livro inteiro dedicado a elas, chamado “O corvo e suas traduções”. 
 
ensaio Filosofia da composição, em que o autor explica o processo de composição de O corvo. Essa indicação de leitura foi feita pelo Rogério, que havia lido uma resenha sobre este ensaio antes do encontro e queria conhecê-lo mais a fundo.
 
contos:
 
  • O gato preto
  • A queda da casa de Usher
  • O caso do Valdemar
  • O demônio da perversidade
  • O diabo no campanário
  • O homem da multidão.
 
Quem esteve presente: esqueci de alguma coisa?

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“Histórias extraordinárias”, de Edgar Allan Poe: uma indicação de leitura, um emaranhado editorial e o impensado desencontro

Os habitués deste espaço já sabem como funciona o grupo de leituras: a cada mês os membros do grupo se reúnem para discutir uma obra indicada previamente (via de regra, ao final do encontro anterior).

Em julho passado a ideia era discutir a obra Histórias Extraordinárias, de Edgar Allan Poe. A indicação foi deste que, com atraso, escreve esta pequena nota. Embora soubesse da existência de outras traduções/adaptações (a minha estava creditada a Clarice Lispector), não imaginava que sob esse título pudesse existir um emaranhado de edições com diferentes contos do autor, reunidos sem critério. A este respeito, segue indicação de dois trabalhos acadêmicos dedicados ao tema:

Artigo de Denise Bottmann a respeito da presença de Poe no Brasil: http://bit.ly/rhiZGJ

Artigo de Karin Hallana Santos Silva e Elida Paulina Ferreira com uma comparação entre a adaptação dos contos de Poe por Clarice Lispector e a ‘tradução’ desses contos por Breno Silveira: http://bit.ly/13Fgc99

Pós-escrito

Sobre o “inesperado desencontro” aludido no título desta postagem: diante da multiplicidade de edições, a discussão do grupo ficou prejudicada e o que parecia ser simples adquiriu uma proporção bem maior, levando-nos a optar por um novo encontro sobre o Poe, com textos selecionados, de modo a tentar dar foco a uma leitura que tenderia à dispersão.

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Apontamentos sobre a biografia de Edgar Allan Poe

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Nasce em 19 de janeiro de 1809 em Boston (EUA)

Aos dois anos de idade perde a mãe (o pai havia abandonado a família).

Adotado por um casal da Virgínia, muda-se com eles para a Grã-Bretanha em 1815.

Após regressar aos EUA, entra na universidade em 1826, abandonando-a no ano seguinte por desentendimentos com seu pai adotivo surgidos em consequência da maneira de o autor conduzir sua vida no ambiente acadêmico.

Pela mesma razão, Poe decide voltar à sua Boston natal em 1827, onde lança seu primeiro livro de poesias.

Em 1829, morre sua mãe adotiva. Poe passa a residir com uma tia em Baltimore. A perda da mãe adotiva, somada ao segundo casamento de seu pai, agrava os desentendimentos entre eles, levando ao rompimento de suas relações em 1831. 

Em 1835 Poe casa-se com sua prima Virginia Clemm, então com 13 anos. A esta altura já havia publicado outros trabalhos e atua como editor de um jornal e uma revista.

Em 1839 dá a lume Tales of the Grotesque and Arabesque. Paradoxalmente a obra é um fracasso financeiro e um marco na literatura estadounidense.

Ao longo da década de 1840 o autor se vê às voltas com o problema do alcoolismo e com várias dificuldades financeiras.

Em 1845 é publicado seu poema mais conhecido, O corvo

Em 1847 perde a esposa, por tuberculose, fato que intensifica o consumo de álcool e é em decorrência das complicações do alcoolismo que o autor falece em 7 de outubro de 1849.

Pós-escritos:

[1] Recomendo a leitura do seguinte artigo sobre as relações entre vida e obra de Edgar Allan Poe: http://bit.ly/11FlCUb

[2] Outra recomendação de leitura. Desta vez sobre a série ‘The Following’, mencionada no encontro de julho/2013 por Rogério e Raquel: http://decoisasporai.blogspot.com.br/2013/02/sobre-series-following-e-edgar-allan-poe.html

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Edgar Allan Poe: apropriações imagéticas e trocadilhos fonéticos

Duas imagens relacionadas a Edgar Allan Poe, autor que o “Sempre um Livro” lê nos meses de julho e agosto/2013.

Ambas se apoiam em trocadilhos fonéticos com o sobrenome do autor. Vale a pena conferir. (Até porque um pouco de diversão não faz mal a ninguém 😉 )

Em tempo: encontrei essas imagens no Facebook, sem indicação de autoria nem nenhuma restrição ao seu compartilhamento. Espero não estar violando nenhum direito autoral ao vinculá-las ao blog do grupo de leituras.

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Encontro de 08 de junho de 2013

Segue abaixo um resumo, em tópicos, dos principais temas abordados no segundo encontro dedicado à obra Crônica da Casa Assassinada, de Lúcio Cardoso.

* A violência latente no ambiente dos Meneses, compatível com a vida em determinadas regiões do interior. Tanto violência física (o “acidente” de Valdo com a arma ou a morte de Alberto) quanto psicológica (a cena em que Demétrio, depois de enlevar os Meneses tocando piano, interrompe o “momento feliz” batendo a tampa do instrumento).

* Em relação à questão do tempo da narrativa, que já tinha sido comentada no encontro anterior, a integrante Rita Mendes nos chamou a atenção para o silêncio do texto a respeito da vida de Nina no Rio de Janeiro após sair da chácara. Inclusive fez-se a comparação com a trajetória de Jesus na Bíblia, sobre a qual também paira o mesmo tipo de silêncio.

* Retomou-se a relação entre Ana e Nina, tentando-se um aprofundamento nas suas personalidades.

* A figura de Padre Justino e sua fala a respeito da Graça de Deus, no capítulo intitulado Fim da narração de Padre Justino. Cito: “A Graça existe – respondi. – Mas menos do que um dom de Deus, é um esforço dos homens. Deus espera, e cheio de ansiedade. Mas não temos o direito de supô-lo um juiz distribuindo bens. Seu papel é maior: é o último e supremo reduto onde os homens vão desaguar suas desesperanças. Porque, eu lhe confesso, seu pecado máximo é este – a falta de esperança. Deus me defenda de não acreditar em nada – o nada é apenas o outro lado do absoluto dos que poderiam acreditar em Deus.”. Também comentou-se o modo distorcido como Ana  recebeu essas palavras, vendo na doença da cunhada um sinal de que a justiça divina poderia socorrê-la através do aniquilamento da outra.

* Também comentou-se sobre o “tempo do amor” tanto na relação de Nina e André quanto na de Nina com o Coronel.

VOTAÇÃO

A próxima leitura será Histórias extraordinárias, de Edgar Allan Poe.

Os outros títulos apresentados para votação foram: O guardador de rebanhos (Alberto Caeiro – heterônimo de Fernando Pessoa), Eles eram muitos cavalos (Luiz Ruffato) e Ética e psicanálise (Maria Rita Kehl).

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Encontro de 11 de maio de 2013

No último dia 11 de maio os membros do grupo Sempre um Livro reuniram-se para o primeiro encontro dedicado à obra Crônica da Casa Assassinada, de Lúcio Cardoso, escolhida como Obra do Ano.

Como de praxe, as discussões começaram com a apresentação do autor e de sua obra, destacando a diferença existente entre as primeiras obras de Lúcio Cardoso (como Maleita (1934) e Salgueiro (1935)) e a Crônica, a qual foi destacada no seminário ocorrido em outubro/2012 no Mamm e de que participaram, à época, três integrantes do grupo. Ainda como eco do referido seminário, tivemos também a menção do trabalho do autor como tradutor nos anos 40 e seu possível impacto sobre o processo criativo de Lúcio Cardoso.

Também foi colocada a questão de seu trabalho como artista plástico no período posterior ao AVC e a sua relação com Clarice Lispector, escritora que tem servido a muitos como porta de entrada ao universo cardosiano.

No que tange especificamente à obra, comentou-se de sua estrutura complexa que, como destaca André Seffrin no prefácio da edição de 1998 da Civilização Brasileira, constitui uma “gigantesca espiral colorida” onde todos os personagens possuem um inusitado requinte linguístico que deixa entrever a mão do romancista, que é caudaloso em criar atmosferas e descrever estados de espírito, mas econômico na descrição de ambientes. Por exemplo: que comem os Meneses durante as várias discussões que sustentam à mesa, durante as refeições?

A este respeito, comentou-se ainda para a indeterminação temporal da ação romanesca. Com efeito, apenas no primeiro capítulo do livro – Diário de André (conclusão) – há uma referência truncada a uma data: 18 de … de 19…

Entre os que estavam relendo a obra para o encontro levantou-se a questão de se não existiu a tentação de ordenar os capítulos durante a releitura, de modo a colocar as coisas dentro de uma perspectiva um pouco mais linear.

Os comentários relativos aos personagens e à trama em si concentraram-se em Ana, Nina, Valdo e Timóteo, com destaque para a relação da protagonista com os demais personagens e sua capacidade de desestabilizar o ambiente com sua “pulsão de vida”, uma vez que Nina poderia representar uma “Vênus encarnada” que desperta os desejos adormecidos/enclausurados dentro das normas do bem viver e do bem portar-se dos Meneses.

Esses comentários foram exemplificados com leituras de trechos dos capítulos: 6 (Segunda carta de Nina a Valdo Meneses), 7 (Segunda narrativa do farmacêutico), 8 (Primeira confissão de Ana) e 54 (Do livro de memórias de Timóteo (II)). Se esqueci de algum capítulo, peço a gentileza de que os presentes façam a emenda nos comentários.

Para o próximo encontro, a realizar-se no dia 08 de junho com discussões a respeito da mesma obra, teremos a oportunidade de ampliar as discussões, abarcando aspectos como a relação de Nina com André, os tormentos de Ana e outros mais.

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“O fazedor”: tentativas de achar a chave da porta de entrada ao universo literário de Jorge Luis Borges

O livro “El hacedor” (1960) (“O fazedor”, na tradução brasileira) traz em si vários elementos que o qualificam como excelente porta de entrada ao denso (e, por que não, algo mitificado) universo literário de seu autor, Jorge Luis Borges. Aparentemente, trata-se de um livro banal, uma miscelânea de contos curtos e de poemas metrificados. Entretanto, nada mais enganoso que deixar-se levar pelas aparências e pela indicação da contracapa.

Em primeiro lugar, porque este livro tem o mérito de romper com o hiato lírico na obra de Borges, autor que nos anos 40 e 50 brindou aos leitores apenas livros de ensaios e contos, embora entre estes encontrem-se maravilhas do quilate de “Ficções” (1944) e “O Aleph” (1949). Ainda com respeito aos poemas, é bom notar que eles são compostos por versos metrificados, os quais são adotados tanto pelo esgotamento da estética ultraísta(*) quanto pela suposta facilidade de seu manejo por um homem que a essa altura já estava de todo cego.

Mas, contrariando a imagem que tradicionalmente fazemos de poesia, Borges usa seus versos para levantar questões filosóficas e apresentar ao leitor sua particular concepção de mundo. Atentemos a estes versos de “Ajedrez”:

También el jugador es prisionero 
(la sentencia es de Omar) de otro tablero 
de negras noches y de blancos días. 

Dios mueve al jugador, y éste, la pieza. 
¿Qué Dios detrás de Dios la trama empieza 
de polvo y tiempo y sueño y agonía?

Voltando ao engano das aparências, destacamos, em segundo lugar, que os textos em prosa reunidos em “O fazedor” representam uma viragem na concepção estética do artista. Borges passa a tensionar os limites da narrativa, emparentando-a com a reflexão filosófica, e a investir na concisão quase extrema, reduzindo os relatos a uma página ou pouco mais que isso. E antes que eu me esqueça, é também a primeira vez que Borges publica um livro híbrido. Outro ponto a notar é o questionamento em torno da figura do autor que comparece em alguns desses textos e, por suposto, da autoridade que esse personagem teria. “Borges y yo” é o melhor exemplar do que estamos falando:

      Yo he de quedar en Borges, no en mí (si es que alguien soy), pero me reconozco menos en sus libros que en muchos otros o que en el laborioso rasgueo de una guitarra. Hace años yo traté de librarme de él y pasé de las mitologías del arrabal a los juegos con el tiempo y con lo infinito, pero esos juegos son de Borges ahora y tendré que idear otras cosas. Así mi vida es una fuga y todo lo pierdo y todo es del olvido, o del otro.
         No sé cuál de los dos escribe esta página.

O conjunto de materiais reunidos em “O fazedor” apresenta, pois, um convite de seu autor à reflexão sobre o ofício de escrever e sobre a validade dos gêneros como instituição literária. Essas reflexões até podem nos ajudar a penetrar melhor no universo borgeano, como disse no início do texto, mas representam uma porta de entrada que não está escancarada… ela ainda exige que tateemos à procura da chave e da fechadura.

Nota:

(*) Ultraísmo: Foi a primeira vanguarda literária espanhola em língua castelhana, gestada entre 1918 e 1925. Chega à Argentina pelas mãos de Jorge Luis Borges, que voltava de uma temporada com a família na Europa. Entendido pelos seus idealizadores como um movimento literário (e não uma escola estética), o ultraísmo compilou fragmentos do cubismo literário, do futurismo, do expressionismo e do dadaísmo e tinha como objetivo criar uma renovação/ruptura no panorama da literatura espanhola.

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