A santa cortesã (Oscar Wilde)

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“Teatro completo (Vol. II)” – Oscar Wilde

“Que deuses adorais, então? Ou será que não adorais nenhum deus? Existe quem não tenha deuses para adorar. Os filósofos que usam longas barbas e mantos castanhos não têm deuses para adorar. Discutem uns com os outros nos pórticos. Os [ ] riem deles.”
Myrrhina, personagem da peça “A santa cortesã”, de Oscar Wilde

Consta da edição bilíngue do “Teatro completo” de Oscar Wilde, da editora Landmark, no segundo volume, o fragmento sobrevivente da peça “A santa cortesã” (La sainte Courtisane – ou, ainda, The woman covered with jewels) [1].

Esta peça, cuja redação Wilde iniciou em 1894, trata de uma cortesã de Alexandria que vai ao deserto tentar um certo jovem e belo eremita, o qual evitava olhar para o rosto das mulheres. Quando eles se encontram, ocorre uma espécie de inversão: por suas palavras, o eremita acaba apresentando o amor de Deus à cortesã, o que a leva à conversão; já a mulher, cuja imagem o eremita acabou acidentalmente olhando, faz com que o homem abandone sua vida santa e siga para Alexandria, a fim de encontrar a vida do prazer.

O texto, conforme dito, teve sua redação iniciada em 1894. Após seu período de prisão, entre 1895 e 1897, Oscar Wilde retomou a peça, mas em vez de um término da redação, o que ocorreu foi a perda do original. O que restou e agora é conhecido não passa de pedaços de um primeiro esboço.

Segundo o prefácio da edição da Landmark, esta peça explora uma  das obsessões de Oscar Wilde: “o paradoxo do hedonismo religioso e a piedade pagã”.

Já o prefácio feito por Robbie Ross (o amigo e executor literário de Wilde), disponível na edição online da The University of Adelaide, afirma que “A santa cortesã” explora uma teoria de que o autor gostava muito: a de que, ao converter alguém a uma ideia, você perde a fé na mesma.

Mesmo no fragmento sobrevivente, é possível vislumbrar o paradoxo estabelecido entre os personagens Myrrhina (a cortesã) e Honório (o eremita), e a inversão de papeis que acaba acontecendo. É, mesmo em sua restrita redação restante, um interessante texto de Oscar Wilde.

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[1] Esta não é a leitura do mês do Sempre um Livro, mas acho interessante aproveitar a oportunidade para conhecer mais sobre a obra de Oscar Wilde.

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